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Gourmet e gourmetização; modismo ou uma tendência

  • Maurício Barufaldi
  • 22 de jul. de 2017
  • 5 min de leitura

Gourmet é um ideal cultural associado com a arte da boa comida e da bebida especial, e da haute cuisine.

Haute cuisine (em francês, alta cozinha) ou grande cuisine; foi iniciada pela cozinha francesa com a elaboração e apresentação cuidadosa e artística de pratos, sempre produzidos com produtos da mais alta qualidade.

Originalmente, gourmet era um substantivo e referia-se ao indivíduo que é um bom apreciador e entendedor das boas mesas e dos bons vinhos, mas isso acabou tornando-se um adjetivo.

O termo gourmet passou a qualificar não só pessoas como produtos. E foi adotado por um público sedento pela sensação de exclusividade.

A gourmetização tem dois lados bem distintos. Por um lado incentiva a inovação na cozinha, que é muito bom do ponto de vista econômico e cultural. Quando um Chef de cozinha, ou cozinheiro cria um prato gourmet não quer dizer que está descaracterizando a maneira clássica, mas sim dando um novo olhar.

É uma forma de chamar o consumidor para experimentar uma nova forma de apresentação ou renovação de um prato.

Um restaurante se define como gourmet quando este é de alta qualidade e está preparado para paladares especializados. Este elabora pratos com tendências gastronômicas (pratos bem mais elaborados) no seu dia a dia, e nunca especificamente para datas especiais ou em eventos temáticos.

Produtos, refeições gourmet ou casas gourmet são normalmente mais caros que os seus concorrentes que não se classificam como gourmet.

Há quem pense que gourmetizar é se apropriar de uma embalagem estética para vender um produto ruim, e eu não concordo jamais com essa afirmação tola.

A palavra gourmet tem ascendência francesa e o seu significado original designava os bons apreciadores de vinho, os verdadeiros conhecedores.

Mencionado pelo gastrônomo francês Jean Anthelme Brillat-Savarin, no livro Fisiologia do Gosto, publicado no ano de 1825, o termo gourmet surgiu como substantivo para designar aquele que tem paladar apurado.

Mas com uma ajudinha do marketing, transformou-se, no século 21, em substantivo ideal para classificar tudo aquilo que trouxesse alta qualidade, apresentação sofisticada e diferencial criativo.

Ressalto que a popularização do termo gourmet deu origem a muitas estratégias de má-fé. A experiência vai além do rótulo e da apresentação.

Muitos profissionais usam o termo apenas para trazer algo mais caro. O Brasil possui hoje acesso a produtos que antes não era tão comuns, e isso ajudou na formação do conceito de gourmet. Isso é muito bom para a gastronomia, mas é preciso identificar o que realmente é bom.

Mesmo usado em excesso e muitas vezes fora do contexto, o termo gourmet que nasceu para indicar pessoas com paladar sofisticado, não deve desaparecer, mas ganhar novos significados.

Esta também foi uma forma do mercado publicitário aproveitar o momento de espetáculo muito bem utilizado pela mídia, vivenciado pela área da gastronomia, no qual Chefs de cozinha se tornaram estrelas, para vender produtos da área de alimentos.

Atualmente já faz parte do vocabulário português e alargou o seu âmbito a tudo o que se relaciona com os prazeres da mesa, sempre na perspectiva da autenticidade e da qualidade superior.

Este termo pode também ser associado, mais raramente, a uma pessoa, quando se lhe quer atribuir a qualidade de possuir um paladar apurado, e que possua algum conhecimento ou entendimento avançado de culinária e gastronomia

Outras definições podem ser atribuídas, como sendo um alimento de produção limitada, com um design exclusivo e arrojado, com características únicas do ponto de vista sensorial, sendo descrito como um produto de posicionamento Premium.

Os produtos gourmet são elaborados para acrescerem um valor agregado, sendo sempre diferenciados da concorrência ou de determinados nichos de mercado.

A variável qualidade inerente ao produto não se limita ao seu paladar, sabor ou aroma, podendo distinguir-se pela sua forma de produção, pela originalidade na embalagem, pela sua idade, pela sua especialidade, ou pelo tipo de matéria-prima usada na sua elaboração.

O fator preço ainda exerce forte influência, na decisão de aquisição por parte do consumidor, no entanto a procura de produtos gourmet tem crescido de forma exponencial, tendo cada vez mais adeptos junto aos clientes de grau de exigência mais elevado.

A tipologia do cliente alvo define-se por consumidor sofisticado, atento, curioso, crítico e disponível para experimentar coisas novas.

O gourmet é um segmento que apresenta um vasto potencial de crescimento, para padarias, restaurantes, rotisseries, áreas de distribuição e indústria da alimentação.

No entanto, tenho lido muitas bobagens sobre esse assunto. É preciso saber diferenciar uma cachaça, uma vodka ou um bom filé. Uma boa foto, um copo especial, um nome pomposo, ou um prato bonito não transformam o seu produto em algo gourmet.

Mas a maquiagem gourmet não é a única que engana as pessoas. Empresas ou profissionais contratam uma assessora de imprensa ou um relações públicas para desenvolverem um trabalho divulgando os valores ou ingredientes agregados ao produto.

A empresa coloca cadeira retrô na recepção, quadros bonitos, luzes atrativas e placas luminosas que chama a atenção do público. Mas essas empresas, muitas vezes, continuam usando os piores ingredientes, produtos químicos e conservantes nas suas preparações, mas denomina tudo de gourmet. Muitos gourmetizaram o negócio mas esqueceram de dar o toque especial no seu produto ou serviço.

Temos que ficar atentos e aprender a diferenciar as coisas. Nem tudo o que é barato é bom, e nem tudo o que é caro é ruim. Muito menos nem tudo o que é barato é ruim. Nem tudo o que é caro também é bom.

Tem horas que a gourmetização enche a nossa paciência!

Até onde vai a onda da gourmetização: mesmo usado em excesso e muitas vezes fora de contexto, não deve desaparecer, mas ganhar novos significados.

Lembro ainda que esta foi uma forma do mercado publicitário aproveitar o momento de espetáculo da mídia, vivenciado pela área da gastronomia, no qual Chefs de cozinha se tornaram estrelas da televisão, e com isso começaram a vender produtos.

Gourmet também é um recurso do mercado para transformar o que é mundano em algo mais luxuoso ou renovado.

Observo o aparecimento (na propaganda) de varandas de apartamentos, supermercados, margarinas, água, carvão com o rótulo bem elaborado, onde tudo se transforma em gourmet.

Em uma verdadeira gourmetização da vida, um brigadeiro com castanha do Pará, quindim de pistache, coxinha de galinha d’angola e pipoca com curry, se tornaram produtos gourmet.

As experiências são válidas e fazem parte da gastronomia, mas boa parte desaparece no turbilhão da incompetência, quando o consumidor depara com coisas mal elaboradas, mas com etiquetas gourmet.

Tentativas de diferenciar alimentos simples como a pipoca são ridículas, assim como o próprio neologismo já usado em larga escala pelo público.

Apesar de controverso, o termo gourmet não deve se esvaziar tão cedo, mesmo com a overdose do uso.

Ainda tem muita coisa a ser gourmetizada pelo mercado, infelizmente. Acredito que o conceito deve inclusive evoluir e adotar novos significados.

Características como sustentável, saudável, natural e voltado ao bem estar poderão ser agregadas a esse entendimento e podem, com o tempo, até substituí-la, mas há uma sobrevida grande.

As experiências são válidas e fazem parte da gastronomia, mas uma boa parte de tudo isso desaparece no turbilhão da incompetência.

Tentativas de diferenciar alimentos simples como no caso da pipoca são simplesmente ridículas, assim como o próprio neologismo utilizado em larga escala pelo público.

Estudos comprovam que vinte por cento dos produtos em geral, no Brasil, já se voltaram ao conceito gourmet. Também é uma forma das empresas se diferenciarem no mercado e atingirem a grande massa compradora, que nos últimos anos teve mais acesso ao consumo e à informação.

A classe A quer se diferenciar já que a classe média se aproximou do padrão de consumo. E mesmo com a crise econômica não há sinais de decaída.

O consumo hoje na sociedade contemporânea funciona como uma linguagem. Portanto, muitas vezes os consumidores estão dispostos a pagar mais pela mesma quantidade de produto apenas para se diferenciar.

Nós não consumimos apenas pelo valor de uso. Trata-se de uma forma de criar identidade. Nós criamos identidade através do que nós consumimos (roupas, carro, viagens), entendendo até o corpo como um consumo.

A indústria cria um processo de diferenciação de produtos para criar uma diferenciação de preço, porque aí ela vai lucrar muito mais.

Eu considero que a publicidade é um elo entre a indústria de diferenciação e estes discursos.

Aos meus leitores desejo uma feliz semana!


 
 
 

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